Disco Brasil

Guigo RUA
2 min readApr 4, 2024

Vejo o Brasil como um álbum de vinil.

Aquele que os Santa Ceciliers dos apartamentos de chão de taco, samambaia

e guias da tal “umbanda branca”

que gostam de postar no Instagram.

Ás vezes convidam a nata pra ouvir.

A música da diversidade é bonita de se ouvir.

Mas…quando viram o lado B da diversidade, nem sempre a música é bonita.

A polarização vai além da política.

Ela é social. Desigual, desumana.

O País que fala de racismo no lado A,

fica em silêncio quando alguém da nata

dirige bêbado e assassina um trabalhador.

A justiça que não prende o bêbado,

agride o preto que estava sentado

na calçada de casa.

A pele alva da Iemanjá loira, publicitária,

do signo de Peixes que ama o mar,

polariza a pele alvo do Ogum preto

que atrai a bala que tem nome e endereço.

A classe média, lado A tão a favor de justiça social, mas não tem a moral

de conversar com as tia crente

ou o chavoso de Juliette.

Entendam…a periferia que vocês tem tara,

vai além do Emicida,

ou de algum artista de pele preta

que vocês se lembram

quando é pra ganhar Cannes.

Corta pro Rap e pro Funk, que vocês curtem, mas não entendem.

Ou não querem entender.

A quebrada também é reaça viu?

Quantos manos vocês viram

condenando o Robinho ou o Daniel Alves?

Quantos terreiros versus quantas igrejas?

Sabiam que onde o Estado falha,

seja ele governado pelo PL ou pelo PT,

é a igreja e o tráfico que cumprem

o papel de assistência social?

Os refrões do lado A, são bons pra campanha publicitária, pra você postar

e mostrar que conhece do assunto.

Mas a composição dessa trilha, onde a bala,

o choro, o ronco da barriga sem comida,

o choro do relacionamento abusivo,

nem sempre é lembrado.

No fim do dia, depois de 3h de busão,

o Salmo 23 faz mais sentido

que O Capital do Marx.

Eu sou apenas uma das vozes que faz o seu álbum pular,

que rouba sua brisa quando te mostro a realidade.

Guigo.

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Guigo RUA

Artista digital, fotógrafo, videomaker e produtor audiovisual com influências do cinema, música e arte. A Folha não me deu oportunidade ae vim parar aqui.