Vejo o Brasil como um álbum de vinil.
Aquele que os Santa Ceciliers dos apartamentos de chão de taco, samambaia
e guias da tal “umbanda branca”
que gostam de postar no Instagram.
Ás vezes convidam a nata pra ouvir.
A música da diversidade é bonita de se ouvir.
Mas…quando viram o lado B da diversidade, nem sempre a música é bonita.
A polarização vai além da política.
Ela é social. Desigual, desumana.
O País que fala de racismo no lado A,
fica em silêncio quando alguém da nata
dirige bêbado e assassina um trabalhador.
A justiça que não prende o bêbado,
agride o preto que estava sentado
na calçada de casa.
A pele alva da Iemanjá loira, publicitária,
do signo de Peixes que ama o mar,
polariza a pele alvo do Ogum preto
que atrai a bala que tem nome e endereço.
A classe média, lado A tão a favor de justiça social, mas não tem a moral
de conversar com as tia crente
ou o chavoso de Juliette.
Entendam…a periferia que vocês tem tara,
vai além do Emicida,
ou de algum artista de pele preta
que vocês se lembram
quando é pra ganhar Cannes.
Corta pro Rap e pro Funk, que vocês curtem, mas não entendem.
Ou não querem entender.
A quebrada também é reaça viu?
Quantos manos vocês viram
condenando o Robinho ou o Daniel Alves?
Quantos terreiros versus quantas igrejas?
Sabiam que onde o Estado falha,
seja ele governado pelo PL ou pelo PT,
é a igreja e o tráfico que cumprem
o papel de assistência social?
Os refrões do lado A, são bons pra campanha publicitária, pra você postar
e mostrar que conhece do assunto.
Mas a composição dessa trilha, onde a bala,
o choro, o ronco da barriga sem comida,
o choro do relacionamento abusivo,
nem sempre é lembrado.
No fim do dia, depois de 3h de busão,
o Salmo 23 faz mais sentido
que O Capital do Marx.
Eu sou apenas uma das vozes que faz o seu álbum pular,
que rouba sua brisa quando te mostro a realidade.
Guigo.